quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Para:

Hoje te vi atravessando a rua, depois de uma década. Parece que uma sensaçao esquisita
(re)aconteceu dentro de mim, e muito inesperada posso dizer. Até ereção eu tive. Tanto que comecei a dizer coisas em tom desnecessário e as pessoas próximas começaram a reclamar.
Eu sou sozinho, e ando sozinho. Nao quero soar pretencioso, mas sou o melhor sozinho que o mundo vai conhecer. Não é falta de gente ao redor, é que os meus ouvidos, ou cérebro...o corpo nessa toda combinação aí, se isolam da palavra gente. GENTE. isso mesmo.
Mas que nao é o seu caso, dado que lhe chamo de Cecilia. Cecilia ja é outro nome. E no meu mundo, durante muito tempo exisitiu: eu, Cecília (ou você) e gente.
Depois li numa notinha que embrulhei o abajur quebrado, algo sobre Londres, novo emprego com asiáticos, libras...e aí, meu corpo por inteiro deletou Cecília da composição.
Ganhei um livro no verão de 92 numa promoção do jornal. Ele falava sobre psicologia, dados de identidade, etc. Eu não me recordo de muitas coisas que li por la não, mas uma delas falava sobre amores platônicos, amantes nao correspondidos, fantasias de pessoas ideais. Só to falando isso porque tem gente que adorava insistir nessa definição enquanto eu falava de você.
Por isso resolvi te escrever, para que isso pudesse ficar só entre nós dois.
Te olhar era pra mim um movimento de prazer, mas tive que deixar isso para tras porque amar o que não me cabe é incoerente e desgastante. No fim, não de mim, mas do nós, eu nao gritei nem quis quebrar porta-retratos (considerando também que nunca tivemos sequer uma foto juntos); eu me virei para ler atestados de óbito, pra ver se entrava no clima mórbido.
Escolhi guardar pra mim tudo que se pode sentir quando se perde um pedaço: nem traduzi, nem imprimi.
Esta, é sim, a primeira vez que tomo coragem pra lhe falar do amor que tive.
Inútil, sei que a via é única (tomei meu último gole de café).



Carta para alguém que nunca lerá.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

carta três (talvez eu pare de contar)

Carta pra ninguém ou carta pra mim mesma:


"So I looked for your eyes

And the waves looked like they'd pour right out of them
I'll try hard, I'll try always
But it's a waste of time
It's a waste of time if I can't smile easily
Like in the beginning
In the beginning..."


Eu, Isadora, prometo a partir de hoje (28 de fevereiro de 2008), nunca mais me apropriar dos desejos alheios. Isso faz sentido? – afinal, pra quem pergunto se ninguém vai ler, relembrando que essa carta é para mim ou para ninguém, o que dá no mesmo, visto que ando sem comer, bebendo na hora do pão com manteiga e fumando na hora do suquinho da tarde. Ainda não sei se a coloco numa garrafa, tipo antigamente, ou se a deixo cair na rua, tipo performance ultra moderna, dessa gente süpër descolada da cidade. Gente que mostra o pentelho em festinhas onde ninguém se olha no olho. Escrever cartas é tão 1989. Em oitenta-e-nove tinha eu 13 anos, pentelhos iniciais e nenhuma vontade teatral de mostrá-los em eventos cariocas. Adivinhação é um perigo, trabalha num campo fantasmagórico de chutes. A maioria na trave. Me aproprio. Quedjabéisso que tenho de achar que sei o que outra pessoa acha, sente, deseja. Que diabo é isso. Que diabo é isso. Preciso repetir pra tentar saber responder. Esse demônio que habita minha orelha esquerda é engraçado. Fala cada merda. E tem muita fome, o que me irrita quase sempre. Acho que essa carta vai ser para Tilibra mesmo. Essa grande incentivadora da minha escrita. A música que escrevi, e só escrevi para ver a diferença da música cantada para a música escrita, é bem bonita e ouvi agorinha mesmo e doeu um pedaço do meu pulmão, achei estranho doer ali, mas faz sentido, já que não tenho conseguido respirar direito. Já que não tenho comido bem. Já que não tenho negado cigarrinhos. Já que você não me deu seu número novo.

No mais é isso. Viciei em borrifar alfazema no ar. Lou-cu-ra.
Beijos pra mim, eu que me masturbo pensando em mim mesma.
Lou-cu-ra!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Marília,
Daqui recomeço,
me deu uma coisa só de pensar que você manda cartinhas escritas para o meu primo Cláudio, o amante da minha irmã do meio, lembra?, que se ca(n)sou há uns três anos de papel e tudo mais. olha, Marília, estou abrindo aqui em Miracema uma vendinha de coisas reluzentes e trequinhos vermelhos, um luxo! me custaram a pele da bunda, mas pretendo, com os lucros, abrir negócio para lá de honesto para você:
um sobrado que dá para o rio, os fundos para um jardim de alfaces,
a sala dá gosto de entrar, subir correndo as escadas, quem chega primeiro? eu vou sim te buscar São Paulo, nos prometemos fazer amor no criado mudo, gritar baixinho para que a vizinhança não se ofenda e chame, quem mesmo? e, quando a gente enjoar, e se, reabrimos o negócio com outro nome: LiLi's. já estou até vendo romeiros chegando com os bolsos do lado esquerdo cheios de pedidos. alvará e tudo.
Marília, sou que usted, sou socialista, divido tudo menos o meu Nobel da Pintura.
beijos cavernosos, Eduardo


(enviado por Lucenne)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

resposta 2

Marília,

como você, só a Gabriela, mas ao contrário de tua única xará, ler “ma-rí-lia” faz meu pau subir e você ainda veio com literatura cheia de guéri-guéri. Tá querendo me matar, mulher? Olha que ainda te fertilizo. Só ainda não fui porque existe um papel chamado dinheiro e apenas com esse papel eu consigo comprar cerveja belga, um livro despretensioso, e pagar a conta de água para poder tomar banhos quentes, que é mais ou menos o que costumo fazer para matar a saudades da sua cara de raposa. Todos nós temos cara de animais, você também vê isso? Já entendi que sou do clube com face aviária. Só ainda não sei que tipo de ave eu seria. Você é mais pra felina, mas não gatinha, esses seres blasés que me causam atchins, mas também não chega a ser tigresa. Aí já extrapola uma domesticação que te pertence. E que eu tenho que disfarçar as calças de tanto tesão quando te penso. Teu recado de topar o básico e negociar o resto vai ser rasgado por mim em todas as ruas da cidade. Tenho ouvido moderno, coração não.

O boi do seu sonho era magro ou gordo? Fui num site sobre significados dos sonhos e dependo um pouco do peso para interpretar melhor – te contei que larguei a análise? Mas li outras coisas que bem me interessaram, do tipo: “Quanto a este sonho, você deve estar muito bem em matéria de potência sexual. Também deve ser muito teimoso ou rebelde, muito forte e, às vezes, desejado. O boi vermelho é o primeiro chacra, centro de energia localizado na base da espinha dorsal e que representa o mundo material.”

Assim me despeço, estrela solitária botafoguense, te desejando de 10 em 10 segundos, tipo memória de peixe,

Beijos nos lábios, de todos os tamanhos.

Carta 2

Cláudio, escuta

baixinho aqui na tv tem uma dona do sexo falando de verrugas brancas na genitália femin...Deixa pra lá.
Eu ia te ligar ontem, mas minha voz anda cansada de ouvido, então estou apelando pra caneta (do cara do gás, porque na bagunça da mudança não encontro sequer uma). Não é delírio nenhum; estou querendo ficar com os lábios, os grandes, apertados, e seria O fim alugar filme pornô. né não? Sabe que já pensei em largar o bom senso e mandar anúncio pra jornal:
Gleisiane (pseudônimo), peitinho duro, mamilos bonitos, olhos azuis, um céu na cama. Topo o básico e negocio. Esdrúxulo isso! Pode ficar com vergonha alheia.
Pelo menos eu pulo a azaração, blablabla inicial, risinho desmanchado com resposta pra perguntas indizíveis; economizo na gasolina e na dor de peito partido no triiiiim do relógio escroto que comprei no camelô junto com meu amor próprio. 07:00 AM !
Você sabe que com você também foi assim, e mesmo que eu tenha dito que sou do tipo que passeia passos sem pegadas, que não me amarro nem em mim... meu dentro se amarrou. E foi em você. Eu escrevo pra ver se você larga as ferramentas, a gata cor de leite e o Botafogo pra vir correndo pra São Paulo.
Nem ligo se você tem família. Se você não tem, pouco ligo.
Eu não sou do tipo que sonha com domingo na sogra, chá com as primas e buquê. Só quero peso largo em cima do meu pluma; verdadeiramente me dilacerando, te deixo dizer até palavrões. Mas vêm? Meu lençol tem margaridas e colônia de engano. Diz que vêm? Porque meu grito escrito é urgente.


Ah, ontem sonhei que um boi verde mastigava a carta que fiz pra você. Vou correndo colocar esta no correio.

Um beijão da Marília.